sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ops!

Andei me empolgando num blog que gosto muito.

Sabe aqueles blogs que você sempre lê, onde os posts e comentários tem a mesma importância já que o post serve como estopim para uma reflexão absurdamente ampla? Resultado impossível de conseguir só, pois são vários olhos, ouvidos e cérebros distintos contribuindo com suas percepções.

Comigo é aquela coisa do 'oh, eu tb penso isso, isso vaga em minha mente só nunca coloquei em palavras mas é o que sinto, ah!, isso eu digo e repito todo dia como um mantra, putz, nunca pensei nisso, que interessante!, caralho, que merda, uma decepção pra evolução, bicho burro da porra, hmmm, que bom... mais uma flor no meio da bosta de cavalo,' e por aí vai. E o ciclo continua sem fim (ou ad infinitum, ui).

Igual aconteceu acima, me empolguei e escrevi um comentário gigante no blog da Lola, que o publicou como guest post. É um blog que gosto muito mesmo e já recomendei até pra minha mãe. A típica coisa que as mulheres têm que ler. Sem radicalismo, a coisa aqui é posicionamento. Talvez algumas de nós ainda errem a mão, mas antes errar tentando uma imagem mais digna para a classe feminina e não apenas para si do que ser cúmplice dessa merda toda..

Porque pra mim é isso: individualmente não estou precisando dessa luta toda. Já me posiciono. Mais do que na ação, sou mentalmente posicionada, quero um dia falar sobre isso. Não sinto diferença que não as óbvias, não sinto que valho menos e considero a possibilidade dos caracteres iguais para os sexos (com a possibilidade do masculino ser um pouco mais maculado pelos milênios de absorção de um comportamento indesejável). Mas não sou idiota: eu sei que o mundo de fora não gira como meu mundo interno.

Creio em humanos bons e filhos de escrotos (tentando variar o 'filha da puta', hehehe, argumento usado para descaracterizar qualquer defesa que eu possa fazer sobre a situação feminina... apelar não é só no videogame). Faço o que bem entendo e se me acusarem um dia de inveja do pênis, retrucaria que só até o dia em que inventaram o tubo pra mijar em pé (porque, porra, mulher também mija de vez em quando!, não apenas faz xixi). Depois que inventaram os Woman Free 'da vida' vou ter inveja de pênis por que, minha gente??? Gosto de ter o que tenho. Uopa!

Inveja de urinar em pé é coisa do passado.

Bem, nessa linha de empolgação tá lá meu comentário como guest post, o que me deixou bem feliz por ser uma admiradora da autora e dos frequentadores do blog dela.

O post é sobre racismo e eu dei o meu pitaco. E nem falei lá que é fácil ser negrinha assim como eu. Que se eu acho algumas coisas ruins, nem imagino o que acham os outros mais pretos que eu, da pele mais escura.

Também não falei de como é ser marrom nessa discussão sobre preto e branco e tampouco falei como senti o fato de ser uma das únicas pessoas negras da escola, faculdade, trabalho, restaurante. Como é ser negro numa loja. Como é triste notar a percepção que outros negros assimilaram sobre si e que refletem sobre mim, que não aceito esse reflexo.

Dá pra falar pra sempre quase, infelizemente, sobre uma merda de situação que não deveria existir. Poderíamos desistir por causa disso, do não vale a pena debater. Mas vamos mudar o que sem debater, sem brigar, sem falar nem tentar influir na consciência coletiva? Vamos nos calar porque não será resolvido nessa vida?

Talvez não tenha resolução nunca, seja utópico, e o dia que essa palhaçada acabar outra tome seu lugar. Mas não nasci pra aceitar, pra ouvir calada. Mesmo que seja clichê como murros em ponta de faca vou repetir e a cada cem ajudar a transformar um. Essa é minha contribuição.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Como uma viagem

Sentada no sofá, mentalmente num lugar entre pensar em nada e divagar, recebi meus 30 anos. Não aqueles 30 que completei no dia 30, mas os trinta anos internos. Tive o pensamento óbvio de que daqui há 10 terei quarenta, serei quarentona. E então, se tiver sorte, terei chegado à metade da minha vida (que aliás só quero que continue enquanto tiver um mínimo de controle sobre mim). Metade.

Metade. O primeiro impulso foi dizer em voz alta "caralho, então vamos viver intensamente esses dez anos, como se fosse uma conta pra pagar!". Prá vocês verem como são as coisas! Para mim uma urgência são contas a pagar. Devem ser pagas, não devem e não podem ser proteladas. Não as deixamos pra trás, nunca, sob várias penalidades.

Mas nossa vida sim! Adiamos, esquecemos ou fingimos que algumas coisas não existem. Simplesmente porque o castigo não vem a cavalo. Ele vem a lesma. Ele vem no fim, quando já não há o que fazer, ou quando não há mais tempo para se fazer o que devia ter sido feito. Às vezes, montado na lesma ele chega no meio, em forma de reflexão. Cabe ao leitor encarar ou correr do castigo quando ele chega em tempo hábil. Mas se escolher correr não importa o quanto corra... lá na frente... já sabem.

E aos que encaram cabe tomarem para si o poder de transformar.

Essa minha lesminha trouxe o baque sobre o baque: primeiro a reta até os quarenta, na vibração de uma corrida 100m com barreiras. Depois, ver o que considero sério em detrimento do que realmente importa e deixo passar. (Nem ficarei divagando aqui sobre trabalhar pra viver versus viver para trabalhar mas essa tendência me assusta e fujo dela com força. )

E vocês também, a maioria, arrisco. Fazem tudo super certinho. Tudo que não importa realmente pra alma.

Tá legal, não sou hippie, nem acho que podemos viver de amor ou luz solar apenas. Temos necessidades básicas e fúteis também. Não há problema com a futilidade sem exageros: elas trazem prazer e desvincular-se delas seria algo impensável uma vez que absorvemos essas coisas como oxigênio.

Para afastar-se de tudo que não seja puramente puro (pisc) teríamos que nos transformar em seres impossibilitados de participar socialmente. E mesmo que escolhêssemos isso, mudar-se, transformar-se, é uma escolha de difícil manutenção. É diária, é a todo segundo. É estar alerta o tempo todo até a transformação consolidar-se. E ainda depois.

Não tenho essa intenção de super elevar-me espiritualmente num nível fodido (percebe-se né?). Hoje não estou aqui pensando no que poderia fazer pelos outros, aqui estou pensando no que posso fazer por mim.

Não acho que devamos ser inconsequentes na busca por prazeres da vida, e até entendo essa atitude, mas acho que devemos sim nos dedicar a buscar o que nos faz bem. Com afinco. Com o mesmo afinco que você levanta da cama de manhã e cumpre tuas obrigações.

Na continuação do pensamento do sofá fui avançando as décadas até, pum, vai chegar, o dia vai chegar e eu vou morrer. Mas isso não importa, o que importa é ter aproveitado a porra toda. A volta que dei foi essa: aproveitar sem ter dúvidas de ter aproveitado, pra chegar no dia e poder morrer sem a companhia da culpa sobre a lesma.

E nessa direção, cheguei à sensação que tenho sempre que faço uma viagem. Foi exatamente essa sensação que senti sobre a vida. Tentarei explicá-la apesar de não ser uma ideia concreta no momento em que se passa: quando chega no terceiro ou quarto dia de uma viagem de 7 dias, começo a sentir uma sensação estranha que me faz avaliar se aproveitei bem os primeiros dias.

No meio desse balanço coloco o fato de que ainda falta a metade, metade, e posso continuar aproveitando, sem paranóias sobre a quantificação do aproveitamento. Mas o sentimento já se instalou e ele libera outra coisa: a sensação de não querer que acabe mesclada com a sensação de que sei que vai acabar rápido, porque  os três primeiros dias passaram voando e foi como se eu mal os tivesse visto.

Essa sensação. De algo que está se esvaindo, que quero segurar mas é impossível. Se instalou.

Mas dessa vez a viagem é mais longa e realmente não quero que passe rápido, nem quero ficar com a sensação 'mas já?!?'.

Vivamos mais! Sempre e todo dia!

domingo, 11 de setembro de 2011

"A mamãe diz - Aula de hoje: Maquiagem"

Quem me conhece sabe que não sou dada a maquiagens. Que um dos meus temores seria que a pessoa que acordasse ao meu lado se decepcionasse ao me ver de cara limpa. Desse modo, nunca fui muito fã, prefiro encarar cruamente, literalmente.

Sem contar também que precisa ter paciência e um certo jeito para aplicar aquela massa toda. Além do que sempre me vem a mente eu suando e a massa pingando. Não. "Ah, tem à prova d'água!". Não.

Bem, recentemente resolvi adquirir apetrechos básicos de maquiagem, que se resumem a um blush e um rímel preto. Estou gostando de usar, assim, suave, não muito aparente. O pincel do blush mal encosta naquele monte de pó 'malva' (rosa pra todos os homens e também pra mim!) antes de tocar meu rosto e o rímel mal roça meus cílios porque já percebi que se passar como devo fico parecendo uma boneca insana.

Um dia desses minha filha pediu pra passar um pouco de blush antes de sair ao ver que eu estava passando. Pra agradar, e depois de repetir um mantra materno sobre criança não usar maquiagem, passei levemente o produto nas bochechas dela. Ao mirar-se no espelho, surgiu sua indignação de não estar vendo nada. E foi nessa hora que a mamãe disse seu ensinamento número um sobre maquiagens: "se der prá ver é porque passou errado".

E assim vamos difundindo as grandes verdades da humanidade.