terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A mamãe diz: "Lápis 'cor de pele' não existe"

Esses dias a Sofia repetiu uma lição que dei há um tempo, da série "A mamãe diz".

Fiquei feliz por ela ter fixado o conceito. Talvez com sua delicadeza infantil ela possa, quem sabe, difundi-lo no meio infantil.

Sempre tive nóia do 'lápis cor de pele'. Quando era criança, não entendia porque caralhos aquilo era cor de pele. Era rosa, um rosa esmaecido, quase triste, quase não deixava marcas no papel. Um lápis chato. Com um conceito ininteligível: "cor de pele".

O famigerado. "Cor de pele" de quem, cara pálida?

Eu via várias cores de pele. Até então no meu mundinho pele era de pessoa, e era pele. Acho que nem pensava em "pele" de bicho. E aquela cor não representava a minha pele. Então do que sou coberta? Não é pele? Não tem cor de pele!

Então, o dia que a Sofia veio com o lápis cor de pele, tudo veio à tona e numa tranquila, numa nice, numa boa, fiz com que ela questionasse esse conceito. Olhar a pele dela, a minha, do pai, dos amigos e ver se existia apenas uma cor de pele.

Ela voltar meses depois falando do conceito incorreto do lápis, com a propriedade de quem internalizou uma boa ideia, não teve preço.

Não sei se é onde começa de fato, mas o preconceito passa pela linguagem como um furacão e dispõe ideias fechadas e duras, difíceis de se livrar. Onde pudermos começar a quebrá-lo está bem.

Ah, finalizava, mas lembrei de outra coisa que só pensei depois de adulta, porque ainda não se chamava dessa forma babaca. Antes era "creme", "cor de burro quando foge", sei lá, mas não era "nude". Devia ser também o famigerado "cor de pele".

Man@s, se eu puser uma porra de vestido nude não vou parecer nude nem aqui nem na China. Uma mulher mais negra que eu de nude? Poupem-me.

"Nude". Nem aproximadamente.


Se isso não é uma ideia com um péssimo conceito por trás, não sei o que é. É até não reparado por muitos, ou negado veementemente por outros ou ainda apontado como "perseguição" por acéfalos, porém está ali.

Não estou dizendo que pregam o racismo declarado, mas pregam um conceito violentamente excludente, que não deixa de fazer seu mal e em conjunto com outras ideias poucos louváveis poderá transformar-se em preconceito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário