segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Covarde, quero ser feliz!

Escrito em 30/11/2011

Às vezes, quando recebo as contas, nem as abro. Não abro porque normalmente não vou pagá-las naquele mesmo instante, então não vejo motivo para encará-las. Até porque sei mais ou menos de quanto elas são. Dessa forma adio o conhecimento sobre o valor delas, mas não pelo valor: simplesmente pela impossibilidade de resolvê-la naquele minuto. A cena é mais simples do que a explicação do processo: eu agacho, pego o papel e coloco em cima da mesa, sem nem mesmo refletir sobre isso.

Mas uma coisa que também acontece é meu senso de orientação tempo-espaço um tanto descalibrado, e eu não sei qual é o momento do mês em que as contas chegam. Ou até sei num outro nível de consciência, mas acredito que um lugar teria que me mandar mais de três correspondências num período de tempo x para eu notar algo errado, que recebi mais cartas do que o normal daquela empresa. Enfim, abro-as em outro momento, quando as reencontro e posso pagá-las.

A passagem de hoje envolve a Eletropaulo. De vez em quando eles enviam uma linhas informando que a energia elétrica será cortada, no dia tal e de tal a tal hora (as vezes mais que um dia) para reparos nos postes e etc.

Eles mandam com alguns dias de antecedência que garantem que eu abra a correspondência antes do corte. Só que houve a greve dos correios e a carta deve ter atrasado e de repente, puf, acabou a luz.

Aí a mente, como só ela poderia fazer, literalmente (haha), lembra: "putz, não teria os olhos visto mais de uma carta com o logo da Eletropaulo recentemente?" Sim, no chão (no chão!)  está a cartinha. Com a lanterna do celular constato: é hoje. E da 00:30 às 6 da manhã. Um tempaço numa sexta a noite.

Fica aquela broxada: sem música, sem séries, sem internet, sem nada!! 

Depois de uns minutos brincando com a lanterna na sacada (caramba, as lanternas dos celulares sao ultra potentes!) pus-me a pensar na escravidão em que vivemos. Escravos da eletricidade. Que tristeza!

Há não muito tempo as pessoas sabiam o que fazer quando o sol se punha... (Trepar e dormir? Cantar em volta da fogueira, lampião? Conversar? Pensar? Ler ou escrever à luz de velas?)

E indo mais longe: o fim do mundo. Normalmente encarado de forma muito literal. O fim do mundo pode ser uma pane nos sistemas elétricos do mundo, causada por alguma força natural ainda desconhecida pelos registros, uma vez que a eletricidade é muito recente. Um fenômeno como a inversão dos polos magnéticos. Ou como oTormenta Solar de 1859 (explosões solares que geraram uma tempestade eletromagnética que eltetrocutou técnicos dos telégrafos, incendiou papéis e enlouqueceu as poucas máquinas), só que mais fodido. E parece a NASA prevê que o próximo pico do ciclo solar será em 2013 e prejudicará a energia e comunicações. (ai ai ai Discovery Chanel)

O despertar do Sol é um tanto mal humorado. Te entendo, Sol, mas não me foda!

Um evento como esse em proporções mundiais, ou mesmo que continental, mudaria o provável rumo do mundo que conhecemos. Se o prazo para o reparo excedesse alguns dias, o caos certamente se instalaria.

O que me leva a pensar se teríamos força pra iniciar uma nova era. Acho que somos seres adaptáveis, acho que iríamos pra fente, mas a um preço maior que dos nossos antepassados. Porque somos mais fracos que eles: somos humanos bunda. Antes éramos mais punks, mas hoje somos "punks de butique" (acho que minha geração é a última a usar este termo. Descanse em paz "punks de butique").

Sem energia pra mover os poços de extração de petróleo e refinarias não teríamos combustível para atravessar toda a area afetada (isso se não for do outro lado do oceano: balsas, barcos, canoas, piscinas plásticas rsrs).

Imagine nós que vivemos em áreas urbanas, depois dos saques nos supermercados, e depois das casas, o que nos restaria? Os animais de rua, os de estimação, uns aos outros... o bicho certamente pegaria.

Aí penso, putz, que louco seria fazer parte dessa primeira leva de novos humanos, de uma nova era. Teria útero pra aguentar o tranco. Mas eu sou covarde, covardona. Porque eu queria só ser feliz, morrer sem ter que lutar (tão mais) pela minha vida, pela continuidade da existência da nossa espécie. Porque a gente está tão confortável aqui hoje, como humanidade, não como indivíduos, que uma parte minha não queria que isso mudasse enquanto estou aqui. Quero a vida dos meus avós: morrer velho, ter os filhos criados, ver o holocausto bem de longe.

E o título resume isso. Mas se tiver que ser, que venha.

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